"A busca do espiritual também pode ser um ‘seguro’
contra possíveis desgostos no outro mundo, e nesse caso ela é uma expressão de
medo latente. Assim, pode ser uma forma de investimento, uma precaução do homem
contra tempos difíceis; quanto mais ele peca e torna-se indulgente consigo
mesmo, mais necessidade sente de preparar um caminho seguro no outro mundo.
Portanto, cada pessoa que deseja viver a vida
espiritual deve testar a si mesma e examinar seus motivos, que em geral são
dissimulados para que não sejam trazidos à luz. Mas se o aspirante se permite
ser iludido, não encontrará a iluminação. Ele deve examinar a si mesmo para ver
se realmente deseja seguir o que é espiritual ou se está apenas buscando uma
válvula de escape, uma confortável conformidade ou uma segurança futura. Quando
a busca do espiritual é irreal, somente uma parte da vida da pessoa é dedicada
a ela. Essa parte está apenas na superfície; então, a pessoa age no nível
superficial e se preocupa somente com atividades externas que gosta de chamar
de espirituais. Ou pode ainda devotar um pequeno compartimento em sua vida a
certas práticas, enquanto o restante do ser se entrega totalmente a diferentes
ocupações. Dessa forma, ela pode ir à igreja, ao templo, envolver-se em orações
rotineiras e tentar uns poucos momentos de meditação, mas a maior parte de sua
vida permanece desvinculada dessas ocupações e não é por elas influenciada.
A busca pelo espiritual não deve ser compartimentada;
ao contrário, deve ser feita com todo o coração, não com um interesse pessoal,
mas como uma busca pessoal e, contudo, ávida."
(Radha Burnier - A Vida Espiritual - Revista Sophia, Nº 9, Ano 35 - p.27/29)
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