"Espiritual
é uma daquelas palavras como amor, Deus,
bem que não correspondem a objetos concretos e significam coisas diferentes
para pessoas diferentes. A palavra bem, por
exemplo, seria interpretada num sentido estreito ou universal pelos que
experimentaram a bondade num nível superficial ou profundo. A palavra espiritual pode significar muito, pouco
ou absolutamente nada. Cada pessoa interessada na vida espiritual deve
descobrir se ela corresponde a algo dentro de si mesma ou se é meramente uma
palavra usada por outros e, portanto, um mero conceito, uma noção teórica que
não se baseia no conhecimento pessoal.
Por outro lado, cada um de nós pode entender a palavra amor, que tem uma base no
relacionamento pessoal, pois todos experimentamos o amor de uma forma ou de
outra. Nossa experiência pode ser limitada, mas serve para dar uma vaga noção
de um amor diferente, maior.
Para a maioria de nós a palavra espiritual é como a palavra Deus
– uma palavra que pode encobrir numerosas contradições e ilusões; uma expressão
que podemos interpretar de acordo com nossos próprios desejos e inclinações
ocultas. Uma pessoa está perturbada por sérios e persistentes problemas; está
sozinha ou fracassada. Estando ela oprimida e desiludida, volta-se, para
alívio, ao ‘espiritual’. Se ela tivesse sido bem-sucedida no mundo material,
não teria buscado nenhum outro caminho; seu aparente desejo pelo espiritual é
meramente um escape e a palavra lhe comunicará uma ansiada mudança das
experiências terrenas.
Existem outros que estão condicionados a gastar algum
tempo do seu dia em atividades religiosas, que acreditam trazer benefícios
espirituais. Assim, milhões de hindus, budistas, cristãos e outros repetem
orações e tomam parte em adorações com pouca concentração ou pequena atenção ao
seu significado interior. Esse é o molde preparado para eles pela sociedade na
qual vivem, e onde caem prontamente; em outras circunstâncias, eles
naturalmente iriam se adequar a algum outro molde. Por isso, não estão
realmente voltando-se para o espiritual; estão se conformando ao que é mais
fácil e fazendo aquilo que deles é esperado. (...)"
(Radha Burnier - A Vida Espiritual - Revista Sophia, Nº 9, Ano 35 - p.27/29)
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