"Conheci um homem rico que sempre adquiria carro do último tipo, o mais caro. Adorava o carro como um apaixonado qualquer a sua amada. Dava-lhe tratamento extremamente cuidadoso. O brilho do carro era-lhe obsessão.
Uma noite, o carro estacionado, estando ele no cinema, algum malvado fez um risco no lindo capô. O pobre homem 'adoeceu de raiva'. Não é apenas uma expressão popular. Adoeceu mesmo. De raiva de quem fizera aquilo, e de dor, por ver estragado seu carro. O risco não fora apenas no automóvel, mas em seus próprios nervos, pois, a rigor, o carro não era dele - o carro era ele mesmo. Dizia Cristo: 'Onde está vosso tesouro aí está o vosso coração' (Lc 12:34).
Aquele homem abastado é o símbolo da identificação. Sua tranquilidade, sua saúde, sua felicidade, dependiam 'dele' - do carro. Era portanto uma pessoa muito vulnerável. Semelhante a milhões de outros seres humanos. Era vulnerável como seu carro. Enguiço, sujeira, arranhão, batida, a que todo automóvel está sujeito, atingia-o em seu psicossoma, isto é, faziam-no sofrer mental e organicamente.
A identificação mais normal, mais generalizada, é aquela às coisas externas e mais ou menos vulneráveis quanto um automóvel. Os homens 'normais' continuam a fechar os ouvidos doidos à sapiência de Jesus: 'Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a Terra...' Continuam, sem ver que põem seus queridos tesouros 'onde a traça e a ferrugem corroem e onde os ladrões escavam e roubam' (Mt 7:19).
Podemos identificar-nos a um objeto, a um outro ente humano, como a namorada, o filho, a um emprego ou à ribalta. Somos identificados às coisas quando nos sentimos infelizes com a perda, o desgaste ou a decadência de tais coisas. A felicidade de muitos está ligada, às vezes, a acontecimentos em si insignificantes, como a vitória do time de futebol ou do partido político, mas também à manutenção de um emprego ou posição de destaque social ou artístico, ao triunfo da ideias ou ideais que professam. (...)"
(Hermógenes - Yoga para Nervosos - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 2004 - p. 157/158)
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