"(...) Voltando ao exemplo da lei natural, podemos olhar
para a lei de causalidade, que rege toda a natureza, interna e externa. Na
Índia ela é expressa como a lei do karma. Voltando a nossa atenção apenas nos
seres humanos, podemos expressar a lei do karma da seguinte maneira: a ação é
determinada pelas tendências do ser e, ao mesmo tempo, age sobre o ser. É como
o sistema mutuamente interativo de espaço-tempo e matéria na teoria geral de
relatividade: a matéria afeta o espaço-tempo e o espaço-tempo afeta a matéria.
Na lei do karma o ser efetua a ação e a ação afeta o ser.
Se eu tenho uma determinada personalidade,
naturalmente vou ser induzido a praticar certos tipos de ação. Por sua vez,
essas ações deixam sulcos no meu ser, alternando-o de modo que eu me torno uma
pessoa com novas características e tendências. Na oportunidade seguinte, agirei
de acordo com minhas novas tendências. Minha ação futura (karma) é assim
determinada por minha ação passada. Ações importantes deixam impressões
profundas na psique, criando nós que afetam minhas ações futuras durante longo
tempo, sem que eu necessariamente esteja ciente dos nós ou de suas causas
iniciais.
Como princípio geral, os efeitos do karma não estão
restritos a uma única vida; a lei encurta a fronteira do que é comumente
chamado vida e morte. Incidentalmente se pode argumentar que uma ação não
significa apenas uma atividade corporal, mas também abrange pensamentos,
sentimentos e intenções.
Quando tenho maus pensamentos a respeito de alguém, isso não apenas reflete a
qualidade do meu ser, mas também afeta ulteriormente essa qualidade.
Esse é um exemplo de uma lei da natureza tradicional,
mais ou menos compreendida sob essa forma pelos dois terços da humanidade que
agora vivem na Ásia e pela vasta população dos países hindus e budistas. É uma
lei de determinismo, mas também uma lei que torna a liberdade possível e que
provê a base para qualquer prática espiritual. Compreendida parcialmente, a
partir do ponto de vista de apenas um nível dentro do ser humano, a lei do
karma cria um círculo vicioso do qual não se consegue escapar, e frequentemente
tem sido compreendida dessa maneira, levando ao desespero ou à resignação. (...)"
(Ravi Ravindra - A conquista da Liberdade - Revista Sophia, Ano 8, nº 32 - p.10/12)
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