"(...) Pratica vichara a pessoa que toma sábia iniciativa de (com isenção, sem medo, sem pena de si mesmo, sem alvoroço e mesmo sem ânsia de curar-se) assistir ao desenvolvimento de um defeito ou ao desenrolar de uma crise, procurando, acima de tudo, perceber-lhe os motivos ocultos, sem pretender sustar, sem condenar, sem procurar explicar as coisas com racionalizações confortadoras. (...)
Eis um exemplo de racionalização. Uma pessoa não resiste à bebida, e mesmo após ter ensaiado uma resistência, fraqueja e bebe. Para não ficar mal perante a si mesma, manipula uma explicação, com a qual se engoda. Diz então que o álcool é um vasodilatador que dá energia, que protege contra o frio, que estimula...
Como se vê, a racionalização é o oposto de vichara. Enquanto vichara desilude, libertando, a racionalização escraviza, por esconder a verdade. Quem quiser conhecer-se a si mesmo, fique alerta contra tal cilada da mente, que é a racionalização.
Da próxima vez que começar a sentir as primeiras emoções de uma crise, em vez de amedrontar-se e correr para as bolinhas, faça o oposto. Sente-se relaxado, sereno, corajoso, calmo, sem luta, e comece a tomar consciência de tudo que for acontecendo. Procure conhecer as causas. Nada de pânico. Nada de apiedar-se de si mesmo. Nada de esforços para resistir e vencer. Faça ishwarapranidhana ou seja, entregue-se confiante a Deus e se comporte como um tranquilo observador, sem qualquer participação. Faz de conta que a 'coisa' se passa do outro lado de uma vitrina.
Isso o ajudará a descobrir que a cobra ameaçadora é somente uma inofensiva corda. Isso lhe dará confiança e domínio sobre o inimigo que até então parecia invencível. Faça o mesmo com todo o comportamento, impulso, compulsão, atitude, e verá que irá se tornando cada vez menos vulnerável e cada vez mais senhor de si."
Hermógenes - Yoga para Nervosos - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 2004 - p. 150/151)
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