"(...) Nas situações de prazer e de dor, o tempo parece de
encurtar e se alongar, respectivamente. Quem já não viveu horas de amor que
duraram um segundo ou uma dor de cabeça que durou um século?
‘Talvez seja difícil reconhecer que o tempo é a causa
do nosso sofrimento e de nossos problemas. Acreditamos que eles são causados
por situações específicas em nossas vidas, e, de um ponto de vista
convencional, isso é uma verdade. Mas enquanto não lidarmos com a disfunção
básica da mente – o apego ao passado e ao futuro e a negação do presente – os
problemas apenas mudarão de figura’, ensina Tolle; ‘não há salvação dentro do
tempo. Você não pode se libertar no futuro’. Então, de que maneira podemos nos
libertar e deixar de sofrer em razão da impermanência? Percebendo que a única
dimensão real do tempo é o agora. Na plenitude misteriosa desse espaço-tempo
que não tem começo nem fim, que é imutável dentro da descontinuidade que nos
cerca, a relação observador-observado deixa de existir, restando apenas a observação,
um estado de totalidade com o fluxo da vida. Nessa totalidade deve reinar a
consciência descrita por Cristo como ‘Eu e o Pai somos Um’.
O que nos impede de viver o agora neste momento,
deixando de sofrer as agruras do tempo psicológico? Provavelmente nenhuma dor
física. Contudo, quase nunca estamos ‘bem’ de verdade. Há um conjunto de
sensações misturadas com lembranças desconfortáveis, fazendo nosso pensamento
vaguear de um lado para outro. São as ‘flutuações da mente’, semelhantes às
ondulações na superfície de um lago, que nos impedem de ver seu fundo. Nessa
imagem, o fundo do lago é a nossa natureza real, que a instabilidade da mente
encobre.
Por essa razão, no yoga
a mente é estudada em profundidade. Yoga é
definido como ‘a dissolução de todos os centros de reação da mente’, nos Yogas-sutras de Patanjali (Sutra número
2), conforme tradução e comentário de Mehta. (...)
Por meio da disciplina do yoga que inclui técnicas
objetivas como auto-observação e a meditação, podemos inverter o jogo, reeducando
a mente a fim de colocá-la a nosso serviço. Nem por isso a natureza cíclica do
mundo mudará; isso está entre as coisas que não mudam. A diferença é que não
estaremos mais vivendo inconscientemente esses ciclos; estaremos integrados
neles, acompanhando com nossos batimentos cardíacos o ritmo do coração do
mundo."
(Walter S. Barbosa - O desafio da impermanência - Revista Sophia, Ano 12, nº 48 – Pub. da Ed. Teosófica, Brasília - p. 26)
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