"(...) O apego é gerado quando tomamos as situações da vida
como a própria vida. O apego não aceita que a vida siga o seu caminho no
processo cíclico que gera, alimenta e destrói todas as formas, propiciando uma
constante aprendizagem para o ser.
Qual é a base da auto-observação? A existência de
entidades distintas dentro de nós – o observador e o observado. Somos feitos de
espírito e matéria. Segundo Patanjali, a matéria fornece os veículos para a
consciência, um campo onde ela pode obter ‘experiências e liberação’.
Naturalmente, enquanto não praticamos a auto-observação não percebemos a existência
dessas entidades em nossa própria natureza. Dominados pela matéria, pensamos
que somos apenas corpo físico, emoções e mente.
Há 2.600 anos o filósofo indiano Patanjali afirmou: ‘O
sofrimento que ainda não chegou pode e deve ser evitado’, sendo que ‘a causa
daquilo que deve ser evitado (o sofrimento) é a união do vidente com o visto’.
Em outras palavras, a causa do sofrimento é a escravização do vidente ao visto,
do observador ao observado, do espírito à matéria.
A auto-observação é uma prática difícil, senão
impossível, sem a mudança de alguns valores. Ela requer uma parada, ou pelo
menos a desaceleração do rolo compressor que habita em nós, e que valoriza a
‘casca’ em detrimento da ‘essência’. Esse rolo é alimentado pelo tempo
psicológico.
O tempo psicológico difere do tempo do relógio porque
se alimenta de expectativas. É uma pressão que, por ambição ou ansiedade, nos
projeta para o futuro, afastando-nos das pessoas e dos atos do momento
presente, impedindo-nos de sentir, de desfrutar da companhia dessas pessoas, de
viver integralmente. (...)"
(Walter S. Barbosa - O desafio da impermanência - Revista Sophia, Ano 12, nº 48 – Pub. da Ed. Teosófica, Brasília - p. 24)
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