"(...) No Bhagavad-Gita
há um diálogo interessante entre Arjuna e Krishna: ‘Como é um homem
iluminado? Como ele dorme, como trabalha, como vive?’, pergunta Arjuna, e
Krishna diz: ‘ele vive, trabalha e dorme como um homem comum, mas não pelas
mesmas razões.’ O processo do ego não é uma questão do que se está fazendo, mas
de como se aborda o fazer e o não fazer.
Isso não é altamente filosófico nem de difícil
compreensão. Ensinamos as crianças a jogar um jogo pela alegria de jogar, e a
se aprimorar no jogo pelo amor ao aprimoramento; ensinamos a não dar muita
importância ao resultado, a quem ganha ou perde. Se damos importância ao
resultado, a atividade torna-se egoísta. Se não formos egoístas, então não
importa quem ganha ou perde. Existe a alegria de ter jogado, a alegria de
cumprimentar um amigo por ter jogado melhor e vencido. Não há frustração. Esse
é o espírito do esportista. (...)
É uma ilusão pensar que o autointeresse age em favor
no nosso próprio interesse. Estamos definindo a vantagem de maneira muito
mesquinha e pouco inteligente. Não estamos separados de outras pessoas; portanto,
o que consideramos ser um beneficio na realidade não é.
Se percebermos a verdade disso e os perigos do
processo do ego (percebemos de verdade, não por meio de uma explicação ou como
uma conclusão racional), essa percepção do perigo agirá sobre a consciência e
eliminará o processo do ego. Apenas querer fazê-lo não traz resultado.
Concordar também não ajuda, porque conhecimento e ideias não mudam a
consciência. Mas uma percepção profunda da verdade muda, e todos nós temos
capacidade para esse insight. (...)"
(P.
Krishna - A ilusão do ego - Revista Sophia, Ano 4, nº 13 - p. 43)
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