"Amigo
ignoto, ouve e escuta a mais dura lição que humanos ouvidos podem ouvir!
Depois
de prestares à humanidade todos os benefícios que puderes –
Depois
de lhe ofereceres em holocausto mocidade e saúde, fortuna e saber –
Depois
de esgotares o derradeiro átomo de energia e extinguires, a serviço dos outros,
a última luz dos teus olhos –
Depois
de tudo isso, amigo ignoto, aguarda um inferno de ingratidão!
Ninguém
pratica impunimente o bem – neste mundo imundo...
Ninguém
planta roseiras – sem ferir as mãos nos espinhos...
Ninguém
ilumina inteligências juvenis – sem ser por elas explorado quando velho.
Ninguém
leva outros ao cume do ideal – sem que eles tentem despenhá-lo ao abismo.
Ninguém
abre as pupilas a cegos – sem que eles, quando videntes, lhe arranquem os
olhos.
Ninguém
dá de comer a famintos – sem que estes quando fartos, o devorem...
Ninguém
‘atira pérolas aos porcos – sem que estes lhe metam as patas e o dilacerem’.
Ninguém
abençoa crianças inocentes – sem que estas, quando adultos, o posponham a
Barrabás...
Ninguém
cura cegos, surdos, mudos, coxos, leprosos, aleijados – sem que estes suspendam
na cruz seu benfeitor...
Ninguém
ressuscita Lázaros, jovens de Naim e filhas de Jairo – sem que estes,
redivivos, lhe tirem a vida...
Ninguém
prega doutrinas divinas nem ensina mistérios celestes – sem que seja tachado de
louco varrido ou aliado de belzebu...
Ninguém
mostra aos homens o caminho da verdade e da vida – sem que os homens lhe
apontem o caminho do exílio...
Convence-te
disso, meu ignoto amigo:
Existe
uma misteriosa lei de polarização.
Assim
como ao polo elétrico positivo corresponde um polo negativo, e tanto mais
negativo quanto mais positivo for aquele –
Assim
como as trevas são tanto mais espessas quanto mais intensa é a luz –
Assim
como às mais altas montanhas da terra correspondem os mais profundos abismos do
mar –
Assim
deve também aos mais insignes benefícios corresponder a mais infame ingratidão...
Desde
que o Nazareno sofreu pelo maior de todos os bens todos os males – vigora essa
lei estranha, esse paradoxo dos paradoxos...
Desterra,
pois, de ti esse desejo impuro de justiça!
Injustiça
é pão cotidiano – justiça é iguaria de festa...
Ingratidão
é regra geral – gratidão é feliz exceção...
Seja
tão potente a força do teu espírito, seja tão pujante a juventude de tua alma –
que nenhuma ingratidão te faça ingrato!
Nenhuma
derrota te faça derrotista!
Nenhuma
amargura te faça amargo!
Nenhuma
injustiça te faça injusto!"
A única observação é que considero a vontade de justiça um absurdo neste mundo atual, mas não impuro.
ResponderExcluirObrigado pelo seu comentário. Paz e Luz na tua jornada.
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