"Para compreender o karma, o estudante deve começar com
uma visão clara de certos princípios fundamentais, porque a ausência de tais
princípios provoca em muito deles constante perplexidade e infinitas perguntas
que não podem ter respostas completas sem que suas bases concretas sejam
estabelecidas. (...)
A concepção fundamental, sobre a qual repousa todo o
pensamento posterior correto sobre o karma, é a de que o karma é lei – lei
eterna, imutável, invariável, inviolável, lei que jamais pode ser rompida e que
faz parte integrante da natureza das coisas. A ignorância dessa concepção é que
leva o teosofista mal-informado a dizer: ‘Você não deve interferir no seu
karma’.
Entretanto, sempre que uma lei natural se manifestar,
você deve interferir nela tanto quanto puder. Jamais ouvirá alguém lhe dizer:
‘Você não deve interferir na lei da gravidade.’ Compreende-se que a gravidade é
uma das condições que a pessoa precisa saber avaliar, a fim de ter total
liberdade para se opor a qualquer inconveniente que ela possa causar,
contrapondo-lhe outra força, construindo uma base segura para aquilo que, de
outra maneira, viria a cair por terra sob a ação da gravidade, ou por outro
motivo qualquer.
Quando uma condição da natureza nos incomoda, usamos
nossa inteligência para fugir dela, e ninguém sonharia, sequer, em nos dizer
que não devemos ‘interferir’ ou modificar qualquer condição que nos desagrade.
Só podemos interferir quando temos conhecimento, pois não há possibilidade de
aniquilar qualquer força natural, nem de evitar que ela se manifeste. Podemos,
entretanto, neutralizá-la, podemos desviar sua ação se tivermos força suficiente
para tanto. Embora não possamos abater, em nosso benefício, uma só partícula
dessa atividade, podemos resistir, nos opor, nos desviar dela, de acordo com o
conhecimento que temos de sua natureza e de sua ação, segundo os meios de que
dispomos."
(Annie Besant -
Os Mistérios do Karma e a sua Superação - Ed. Pensamento, São Paulo, 2010, p.11)
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