“Sede, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.
Com esta frase, dá-nos
Jesus o tema central do Sermão da Montanha. Todo o sentido da vida humana
resume-se nisso. E o mesmo tema acha-se no cerne de toda religião: Procura a
perfeição! Tem consciência de Deus!
Temos ideia do que
possa ser a perfeição quando se trata de objetos materiais ou de metas
intelectuais ou morais, embora os padrões individuais possam variar. Mas, o que
se entende por perfeição divina? Uma vez
que nossa mente se circunscreve num mundo de relatividade – dentro do tempo, do
espaço e da causalidade – não temos condição de saber o que seja esta
perfeição, porque ela é absoluta. Temos apenas a vaga ideia de que ela se
refere a um estado de plenitude, de paz permanente e de realização. Todo ser
humano deseja encontrar a realização e a perfeição – em suas relações com
outros seres humanos, em seu trabalho, em cada segmento da vida. Todavia, ao
atingir os objetivos que o mundo tem a oferecer, não se sente ainda satisfeito.
Pode estar rodeado por uma boa família e por amigos leais, Pode gozar de
riqueza e de boa saúde, de beleza e de fama – e, não obstante, ser perseguido
por uma sensação de carência e de frustração.
Naturalmente, é verdade
inconteste que nossos desejos podem ser aplacados temporariamente neste mundo.
Podemos gozar de alguns prazeres e sucessos. Mas, esquecemo-nos sempre de que
eles são passageiros. Se aceitamos os prazeres e o sucesso, devemos estar
prontos a aceitar também a dor e o fracasso.
Kapila, filósofo da
Índia antiga, expressou de forma negativa a perfeição, como ‘a cessação
completa da desolação’. Os sábios védicos procuram exprimi-la positivamente,
como Sat, a vida imortal; Chit, o conhecimento infinito, e Ananda, o amor e o êxtase eternos. Por
detrás de cada esforço humano existe o desejo (por inconsciente e mal orientado
que possa ser) de encontrar Sat-chit-ananda
– noutras palavras, a realidade suprema, Deus. Mas, desde que a maioria de nós
não tem consciência de que a finalidade real da vida é encontrar Deus,
continuamos a repetir as mesmas alegrias e tristezas indefinidamente. Gastamos
nossa energia em realizações efêmeras, buscando recompensa infinita no que é
finito. Somente após passarmos por muitas experiências de prazeres e de dor,
ocorre-nos o discernimento espiritual. Começamos então a ver que nada neste
mundo pode dar-nos satisfação duradoura. Aí, entendemos que o desejo da
felicidade permanente, de perfeição, só pode ser satisfeito na verdade eterna
de Deus. (...)”
(Swami Prabhavananda – O Sermão da Montanha Segundo o Vedanta – Ed.
Pensamento, 15ª Edição – p. 73/74)
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