"(...) Não faz muito tempo, enquanto limpava o terreno ao redor da minha casa, algo caiu no meu olho. Fiz tudo que pude para desalojá-lo. Não tinha ideia do que era, mas sabia que era grande. Honestamente, eu sentia como se um pedregulho tivesse entrado no meu olho. Depois de um dia e uma noite de constante desconforto, fui ao oftalmologista. Sentei-me em sua cadeira, ele colocou o foco de luz no meu olho, virou a pálpebra para trás e removeu o objeto ofensor.
O alívio foi imediato, Durante as vinte e quatro horas precedentes eu havia executado minhas tarefas normais, feito o possível para lhes dar a atenção devida, mas o tempo todo meus pensamentos estavam centrados no desconforto pulsante no meu olho. Quando pedi ao médico para me mostrar a partícula, fiquei atônito com o tamanho. Não era maior do que o ponto no final dessa oração.
Posteriormente, quando pensei a respeito, toda a coisa pareceu-me incongruente. A partícula, que quase precisava de uma lupa para ser vista, algo talvez com um milionésimo do tamanho do meu corpo, tinha tomado totalmente o campo da minha atenção. O desconforto físico exigido fixou minha atenção, primeiramente na dor e depois no modo de me livrar dela. Idealmente eu estava buscando uma cura, mas em curto prazo teria feito qualquer coisa para diminuir a dor ou para desviar minha tenção do sofrimento.
Quando Buda despertou, a primeira das Quatro Nobres Verdades ensinadas foi a verdade do sofrimento. Ele expressa o fato de que viver no reino do corpo, da emoção e da mente necessariamente envolve sofrimento em muitos níveis, desde as dores físicas mais grosseiras à percepção sutil e penetrante de que nada é constante ou seguro. Durante sua vida, muitas vezes ele se referiu a si mesmo como médico, dizendo que seu trabalho era prescrever uma cura para a maioria dos males humanos básicos. De inúmeras maneiras ele ensinou que nossos métodos para nos afastarmos do sofrimento ou diminuir nossa sensibilidade a ela não apenas eram improdutivos, mas assegurou que a condição básica continuaria e até mesmo cresceria. (...)"
(Tim Boyd - Revista Sophia, Ano 11, nº 46 - Pub. da Ed. Teosófica, Brasília - p. 32)
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