"Pergunta-se qual é o
verdadeiro significado do pecado. No sentido em que a palavra costuma ser
empregada, ao menos pelos pregadores cristãos, creio que se pode definir o
pecado como uma fantasia da imaginação teológica. Supõe-se, popularmente, que
ele indica um desafio lançado à lei divina – a execução de algum ato que o
autor sabe ser errado. É muito para duvidar que esse fenômeno venha a ocorrer
alguma vez. Em quase todos os casos concebíveis, o homem infringe a lei por
ignorância ou desatenção, e não por intenção deliberada. Quando o homem
realmente conhece e vê a intenção divina, harmoniza-se inevitavelmente com ela,
por duas razões: primeira, porque, num estágio antecedente, percebeu a
futilidade de proceder de outra maneira, e, segunda, porque, mais tarde, ao ver
a glória e a beleza do projeto, não pode deixar de atirar-se à sua execução,
com todas as forças do coração e da alma.
Uma das mais sérias
dentre as muitas concepções errôneas, que herdamos da Idade Média, é que o
chamado ‘pecado’ é uma perversidade que deve ser enfrentada com castigo e uma
perseguição implacável, e não o que ele realmente é, ou seja, o resultado de
uma situação de ignorância, que só deve ser tratada com esclarecimento e
educação. Pode objetar-se que, na vida cotidiana, vemos as pessoas fazendo o
que devem saber que está errado, mas este é um jeito errôneo de expor o caso.
Eles estão fazendo o que lhes disseram
que está errado, o que é muito diferente. Quando o homem realmente sabe que uma ação é má e que ela será
seguida, inevitavelmente, de más consequências, tomará o cuidado de evita-la. O
homem realmente sabe que o fogo o
queimará, e, portanto, não põe a mão no fogo. Verificar-se-á que todo aquele
que comete um erro justifica-o para si mesmo no momento de cometê-lo, seja o que
for que venha a pensar sobre ele, mais tarde, a sangue frio. Por isso digo que
o pecado, tal como é comumente entendido, não passa de uma fantasia da
imaginação teológica; o que de fato existe é uma situação infeliz de ignorância
que, muitas vezes, conduz à violação da Lei divina. Temos a obrigação de tentar
dissipar a ignorância com a luz da Teosofia."
(C.W. Leadbeater – A Vida Interior – Ed. Pensamento, São Paulo, 1999 –
p. 78)
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