"A ideia de privilégio é a maldição da vida humana. É
como se existissem duas forças constantemente em ação, a primeira dando origem
a novas regalias, a segunda suprimindo-as. Em outras palavras, uma, instituindo
o privilégio, outra, eliminando-o. E à proporção que os privilégios são
eliminados, cada vez mais luz e progresso um povo alcança. Podemos observar
esse esforço sendo feito à nossa volta.
Sem dúvida, a ideia de privilégio começa sendo
exercida, de maneira brutal, pelos fortes sobre os fracos. Há o privilégio da
riqueza: o homem que tem mais dinheiro quer ter regalias sobre o que tem menos.
Existe o privilégio, ainda mais sutil e poderoso, do intelecto: o homem que tem
mais conhecimento exige maiores prerrogativas. Finalmente, o pior de todos os
privilégios, por ser o mais tirânico, é o da espiritualidade; os que pensam
conhecer mais sobre Deus e a vida espiritual, reclamam para si as mais altas
regalias. Proclamam: ‘Venham venerar-nos, horda de ignorantes; somos os
mensageiros de Deus e vocês têm de nos prestar reverências.’
Ninguém pode seguir a Vedanta e ao mesmo tempo admitir
que qualquer privilégio físico, mental ou espiritual seja exercido; de maneira
categórica, não se admite privilégio para ninguém. O mesmo poder está dentro de
cada pessoa; alguns o expressam mais, outros menos. Temos o mesmo potencial.
Quem pode exigir privilégios? O conhecimento, em toda a sua extensão, está
presente em cada alma, inclusive na alma da pessoa mais ignorante. Talvez não
se tenha manifestado por falta de oportunidade ou de condições favoráveis.
Assim que tiver a oportunidade, irá manifestar-se. A ideia de que um homem
nasce superior a outro não faz sentido na Vedanta, como não tem cabimento supor
que entre duas nações uma seja superior à outra. Dê-lhes as mesmas condições e
observe se o desempenho intelectual será o mesmo ou não. Antes disso, você não
tem o direito de afirmar a primazia de uma nação sobre a outra."
(Swami Vivekananda - O que é Religião - Ed. Lótus do
Saber, São Paulo, 2004 - p. 68/69)
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