"Neste
momento em que estou aqui sentado, não estou com medo; não tenho medo do
presente, nada me está acontecendo, ninguém me está fazendo ameaças nem me
tomando nada. Mas, além deste momento presente, uma camada mais profunda da
mente está, consciente ou inconscientemente, a pensar no que poderá acontecer
no futuro, ou a preocupar-se com algum fato passado que me possa prejudicar.
Portanto, tenho medo do passado e do futuro. Dividi o tempo em passado e
futuro. O pensamento interfere, dizendo ‘Tem cuidado, para que isso não torne a
acontecer’, ou ‘Prepara-te para o futuro! O futuro pode ser perigoso. Agora
tens alguma coisa, mas podes perdê-la. Podes morrer amanhã. Tua esposa pode
abandonar-te. Podes perder teu emprego. Talvez nunca te tornes famoso. Podes
ver-te na solidão. Precisas estar perfeitamente seguro do amanhã’. (...)
Estamos
vendo, pois, que o pensamento engendra uma espécie de medo. Mas, separado
desse, existe realmente medo? É o medo sempre resultado do pensamento? Se é,
existe alguma outra forma de medo? Tememos a morte — uma coisa que acontecerá
amanhã ou depois de amanhã, no tempo. Há uma distância entre a realidade e o
que será. Ora, o pensamento experimentou esse estado; observando a morte, ele
diz: ‘Eu vou morrer’. O pensamento cria o medo da morte; e, se não o cria,
existe então realmente o medo?
É
o medo resultado do pensamento? Se é, uma vez que o pensamento é sempre velho,
o medo é sempre velho. Como dissemos, não há pensamento novo. Se o
reconhecemos, ele já é velho. Portanto, o que tememos é a repetição do velho —
o pensamento sobre o que foi, projetando-se no futuro. Por conseguinte, o
pensamento é o responsável pelo medo. Isso é um fato que podeis observar por
vós mesmos. Quando vos vedes diretamente em presença de alguma coisa, não há medo.
Só quando surge o pensamento é que há medo.
Por
conseguinte, perguntamos agora: É possível à mente viver de maneira completa,
total, no presente? Só assim a mente não tem medo. Mas, para compreender isso,
tendes de compreender a estrutura do pensamento, da memória
e do tempo. E, compreendendo-a,
não intelectual nem verbalmente, porém de maneira real, com vosso coração,
vossa mente, vossas entranhas, ficareis livre do medo; a mente pode então
servir-se do pensamento, sem criar medo."
(J. Krishnamurti - Liberte-se do Passado - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 23)
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