"Somos, cada um de nós, responsáveis por todas as guerras, geradas pela agressividade
de nossas vidas, pelo nosso nacionalismo, egoísmo, nossos deuses, preconceitos,
ideais — pois tudo isso está a dividir-nos. E só quando percebemos, não intelectualmente,
porém realmente, tão realmente como reconhecemos que estamos com fome ou que
sentimos dor, bem como quando vós e eu percebemos que somos os responsáveis por
todo este caos, por todas as aflições existentes no mundo inteiro, porque para
isso contribuímos em nossa vida diária e porque fazemos parte desta monstruosa
sociedade, com suas guerras, divisões, sua fealdade, brutalidade e avidez — só
então poderemos agir.
Mas, que pode fazer um ente humano, que podeis vós e que posso eu fazer para criar uma sociedade completamente diferente? Estamos fazendo a nós mesmos uma pergunta muito séria. É necessário fazer alguma coisa? Que podemos fazer? (...) Disseram-nos que todos os caminhos levam à verdade; vós tendes o vosso caminho, como hinduísta, outros o tem como cristão, e outros, ainda, o têm como muçulmano; mas, todos esses caminhos vão encontrar-se diante da mesma porta. Isso, quando o consideramos bem, é um evidente absurdo. A verdade não tem caminho, e essa é sua beleza; ela é viva. Uma coisa morta tem um caminho a ela conducente, porque é estática, mas, quando perceberdes que a verdade é algo que vive, que se move, que não tem pouso, que não tem templo, mesquita ou igreja, e que a ela nenhuma religião, nenhum instrutor, nenhum filósofo pode levar-vos — vereis, então, também, que essa coisa viva é o que realmente sois — vossa irrascibilidade, vossa brutalidade, vossa violência, vosso desespero, a agonia e o sofrimento em que viveis. Na compreensão de tudo isso se encontra a verdade. E só o compreendereis se souberdes como olhar tais coisas de vossa vida. Mas não se pode olhá-las através de uma ideologia, de uma cortina de palavras, através de esperanças e temores."
(J. Krishnamurti - Liberte-se do Passado - Ed. Cultrix, 1969 - pg. 07/08)
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