"(...) A franca e deliberada escolha dessas práticas maléficas, como meio de ganhar poder e riqueza é, na verdade, uma negação daquela espiritualidade que foi ensinada, por preceito e exemplo, pelo fundador da fé cristã. No sermão da montanha, ele inculcou a autoentrega e exemplificou-a no seu nascimento na pobreza e na sua aceitação voluntária da rejeição, do escárnio e da morte cruel. A mais elevada lei moral, disse Nosso Senhor, impõe uma completa submissão do eu. Esse desinteresse pessoal constitui-se o fantástico ensinamento de Jesus; porém, a atitude mental moderna - 'eu primeiro e Deus depois, se tiver tempo' - é, de fato, o inverso desse ideal de abnegação cristã.
Thomas Kempis, mesmo em sua época,¹ viu essas dificuldades e escreveu estas maravilhosas palavras: 'Sabe que o amor do eu te fere mais do que qualquer coisa no mundo. Com ele, em qualquer lugar, tu levarás uma cruz. Se procurares apenas a tua própria vontade e o prazer, nunca ficarás tranquilo ou livre de preocupação; pois, em tudo, alguma coisa estará faltando.'² Quão verdadeiras mostram-se estras palavras hoje! Em tudo que possuímos (e como possuímos!) algo está faltando. Em toda nossa riqueza, nosso progresso científico, invenções e avanços na mecânica, algo está, na verdade, faltando. Esse 'algo' é alegria, saúde, serenidade e paz, baseadas no altruísmo e na obediência à lei moral.
Associado ao declínio da moralidade está o crescimento do cinismo, que se aprofunda até tornar-se amargor, originando-se ambos na perda da fé e dos ideais frustados. Os que enfrentam a adversidade com amargura e que, quando a tragédia e a perda tocam suas vidas, sentem que não pode haver Deus; os que clamam por ajuda e não a encontrando, em seu desespero, submergem na descrença em sua religião e, até mesmo, negam a existência de Deus - esses não encontram na religião ortodoxa aquela rocha sólida sobre a qual suas crenças e vidas podem estar seguramente alicerçadas. Essa é um tragédia que o cristianismo poderia ter evitado - particularmente pelas doutrinas expressas na lei da impessoalidade (Mt 5:18 e Gl 6:7) e da divina Presença no interior do homem (Jo 14:20, 1Cor 3:16 e 6:19, 2Cor 6:16, Fl 2:13, Cl 1:27) e por seu ideal de amor universal (Mt 5:44, Jo 15:12, 13 e 17, 1Pd 1:22). Até agora ele não tem sido praticado assim, pelo menos por grande número de seus seguidores."
¹. 1380-1471.
². A Imitação de Cristo
(Geoffrey Hodson - A Sabedoria Oculta na Bíblia Sagrada - Ed. Teosófica, Brasília - p. 22/23)
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