"(...) Sabemos
através da leitura como seu pai, esperando que ele se tornasse um rei na Terra
em vez de um monarca que reinasse sobre milhões de mentes humanas no mundo
espiritual, cercou-o por todos os lados de tudo que era belo e agradável para
que o conhecimento da dor do mundo pudesse ser afastado de seus olhos. Através
da leitura, sabemos como, pela orientação de um deva, ele foi levado do palácio com seus jardins de prazeres e,
seguindo em sua charrete, encontrou quatro homens por meio dos quais veio a ele
o primeiro conhecimento sobre mortalidade.
Primeiramente
encontrou um homem idoso – até esta época ele só vira pessoas jovens; ele
perguntou a respeito desse homem, meio cego e paralítico, com a face enrugada e
as pernas cambaleantes. O cocheiro disse que era um velho, e que a idade iria
chegar com o tempo para todos que nascessem no mundo.
Ele encontrou
um homem sofrendo de uma terrível doença – antes ele vira apenas a beleza e a
saúde; e perguntou o que era aquilo. O cocheiro disse que muitos dos filhos dos
homens sofrem dessa maneira.
Ele viu um
cadáver – ele que apenas vira os vivos; e o cocheiro disse, é a morte, que deve
chegar para todos que vivem.
E por fim,
ele encontrou um asceta, calmo e pacífico, e perguntou como era possível que
num mundo onde havia a velhice, doença e morte esse homem pudesse caminhar
através dele pacífico e sereno. Disse-lhe o cocheiro que esse homem levava uma
vida além da vida dos homens, uma vida fixa no eterno; daí a sua felicidade em
meio à dor.
De volta ao
palácio, o príncipe refletiu sobre tudo o que tinha visto, e de seus lábios
brotou o grito: ‘Cheia de obstáculos é esta vida doméstica, o retiro da paixão;
livre como o ar é viver ao ar livre’. Essa ideia se apossou dele - o contraste
entre o ‘retiro da paixão’ e o homem sem lar; até que finalmente levantando-se
à noite, ele se curvou sobre sua jovem esposa, bela adormecida, e sobre o bebê
que dormia ao seu lado, e tocando ambos com cuidado para que não acordassem e
para que o choro deles não abalassem seu propósito, deixou o palácio de seu
pai. Pediu ao fiel cocheiro que lhe trouxesse seu cavalo, e atravessou as
sossegadas ruas da cidade adormecida, até que, chegando aos portões, desmontou
e entregou o cavalo ao cocheiro ordenando-lhe que o levasse de volta ao
palácio.
Ele então se
despiu de suas vestimentas principescas, cortou o cabelo, e seguiu só, em busca
da causa da dor humana e de como curá-la. Ele, que deveria ser o Budha, não
poderia viver alegre e feliz no palácio do rei enquanto os homens do lado de
fora estivessem sofrendo e morrendo. Ele buscaria a causa do sofrimento e a
cura para a tristeza humana."
(Annie Besant - Sete Grandes Religiões - Ed. Teosófica, Brasília, 2011 - p. 73/79)
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