"(...) Os verdadeiros instrutores, por outro lado, estão preocupados com o despertar da inteligência - o desabrochar da faculdade de discernimento (viveka), que começa com a compreensão do que fez com que a humanidade se entregasse à violência, à ganância, à agressão e assim por diante durante milênios, e também a percepção das manifestações desses condicionamentos em si próprio. A atenção, a reflexão e a percepção abrem a mente à possibilidade de se libertar da compulsão e da conformidade.
A crença, a obediência cega, a falta de vontade de prestar atenção aos fatores psicológicos dentro do indivíduo e da sociedade, assim como a tendência de fazer o que quer que seja conveniente no momento presente são sérios obstáculos ao despertar. Por isso Buda disse: "Não aceite o que eu digo, descubra o que é a verdade.".
Devemos ver por nós mesmos que os caminhos do mundo são dolorosos ao extremo, e que deve haver uma mudança; somente então se pode encontrar a energia para ouvir sem cair na crença, para investigar sem preconceitos e para descobrir a verdade diretamente.
Pouquíssimas pessoas gostam de ouvir uma mensagem que as tire de seu torpor; elas preferem permanecer estagnadas internamente e depender de outros para sua salvação. Fluir com a correnteza da mundanidade é muito mais fácil do que fazer o forte esforço necessário para emergir dessa correnteza e alcançar a praia. O oceano de samsâra está cheio de tubarões e outros animais perigosos, como descrevem os textos clássicos, mas as pessoas querem permanecer ali, talvez porque sintam vagamente que o mal conhecido é melhor que o desconhecido.
Somente por meio da atenção pacientemente sustentada, do pensamento profundo e da contemplação sobre os principais problemas da vida, da purificação e do refinamento da faculdade de percepção é que a visão clara é desenvolvida. Não há alternativa para os indivíduos que estão empreendendo tal curso de autotreinamento, que pode ser longo ou curto, dependendo da seriedade que se aplicam. O mundo não pode mudar por si próprio. Os indivíduos constituem o mundo, e somente os indivíduos que se transformam podem transformar o mundo."
(Radha Burnier - Revista Sophia nº 36 - Ed. Teosófica, Brasília - p. 24/25)
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