"Grandes instrutores religiosos foram às vezes descritos como "terapeutas das doenças do mundo". Que doença eles curam ou curaram? Olhando superficialmente, a maioria das pessoas estaria inclinada a dizer que é a pobreza, a fome, e a ganância, a guerra, a indiferença aos valores saudáveis, o egoísmo e assim por diante. Sondando a questão mais profundamente, talvez possamos dizer que o mundo, ou seja, a vasta corrente da humanidade que flui de geração a geração, sofre do torpor da conformidade e da falta de verdadeira inteligência (prajna).
A humanidade não tem pouca capacidade cerebral ou intelectual; a evidência disso está nas inúmeras invenções, engenhosas teorias e descobertas espetaculares que realizou. Mas ela parece carecer do tipo de inteligência necessária para não cometer repetidamente os mesmos dolorosos erros. Homens e mulheres, em geral, jamais questionam as atitudes e ideias que repetidamente terminam em violência e outras formas de sofrimento; essas coisas são aceitas como partes inevitáveis da vida.
Conflitos de diferentes dimensões têm levado a dores indescritíveis durante milhares de anos em todas as civilizações e em todas as regiões do mundo. Separam famílias, causam fome, criam uma teia mundial de ódio e miséria. Embora o mundo inteiro saiba como é terrível o impacto da guerra e do conflito, esses males jamais cessam, porque as pessoas continuam a nutrir objetos egoístas e atitudes que causam divisão. Esse é apenas um exemplo de como a humanidade repete descuidadamente ações danosas a si mesma e a outros seres vivos.
Todas as ações surgem de estados mentais. O comportamento cego e repetitivo que causa sofrimento é o resultado de um tipo de obtusidade psicológica. A mundanidade é uma combinação de letargia espiritual e atividade externa quase incessante, num padrão estabelecido de ganância, violência, falsidade e egoísmo. Estranhamente, sua própria falta de inteligência, permanece despercebida pelo mundo e tem até mesmo a aparência de "progresso", porque a inatividade motivada pelo medo e pela ambição produz a ilusão de um movimento adiante. (...)"
(Radha Burnier - Revista Sophia nº 36 - Ed. Teosófica, Brasília - p. 22/23)
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