" (...) Tudo isto pode parecer bastante teórico e difícil de compreender, mas possui um lado bastante prático que pode afetar toda a nossa vida. Nada consegue ferir-nos. Nada consegue assombrar-nos logo que compreendermos que o que muda é apenas a forma - a forma é que é passageira e temporária - e que somente a vida perdura. 'O espírito [poderíamos dizer "a vida"] jamais nasceu; o espírito jamais deixará se ser'. Dito filosoficamente, o lótus individual murcha, mas um arquétipo, a ideia platônica do lótus é eterna, dando origem a outras forma de lótus. Dito de maneira teosófica, o lótus murcha, mas o perfume de sua vida retorna à alma grupo para enriquecer as formas de gerações futuras do lótus. O corpo de nossa mãe, de nosso marido, de nossa esposa, de nosso filho, de nosso amigo morre, mas ele ou ela permaneceu como um ser vivo, assumindo outras formas, tal como a borboleta deixa para trás a forma morta da lagarta que era. 'Morri como mineral e me tornei vegetal; morri como vegetal e me tornei animal; morri como animal e me tornei um homem. Quando fui diminuído por isso?'
Pois morte é transformação - é o cruzar a forma ou ir além dela. Reciprocamente, transformação é morte, e é uma coisa grande e gloriosa quando ocorre naturalmente, quando a hora é chegada, quando a forma está gasta. Mas quem somos nós para julgar quando é o momento adequado; e quem somos nós para julgar quando a forma está gasta? A morte das formas faz com que soframos por nos identificarmos com essas formas. Dizem que a vida jamais existe sem a forma, ou a forma sem a vida. Onde há forma há vida interior mesmo que seja tão sutil que seja invisível para nós. Mesmo na assim chamada matéria morta, a vida elemental está ativa. Uma vez que a vida e forma, então, estão intimamente ligadas, às vezes é difícil traçar a linha divisória entre elas. Como no caso de tantos pares de opostos não podemos dizer 'isto é vida' e 'aquilo é forma'. Podemos dizer, 'a vida parece predominar aqui' e 'ali parece predominar a forma'. O que num caso parece ser a sensibilização da vida é visto no outro caso como a forma externa. Se algo que pensávamos ser a vida desaparece na transformação, será que essa coisa não era forma o tempo todo? Ou não poderia, por meio da mudança sutil - uma retirada da vida -, ter-se tornado predominantemente forma?
O Dicionário Oxford define 'transformar' como 'efetuar mudança (especialmente considerável) na forma, na aparência exterior, no caráter, na disposição etc. de alguma coisa'. Nosso caráter e nossa disposição também podem mudar, mas não pertencerão eles realmente em tal caso ao nosso lado forma em vez de ao nosso lado vida? Num ser vivo, um princípio pode mudar sua função. Dizem que no momento da individualização a alma animal torna-se um corpo causal. Para citar Jinarajadasa em Fundamentos da Teosofia (Ed. Pensamento): 'Na individualização tudo que foi o mais elevado do animal torna-se agora simplesmente um veículo para uma descida direta de um fragmento da divindade, a Mônada...' (...)"
(Mary Anderson - Revista TheoSophia Jul/Ago/Set 2012 - Ed. Teosófica, Brasília - p. 38/39)
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