" (...) Assim, existe uma mudança sutil quanto à ênfase do papel predominante da vida para um papel como forma. Como a transformação ocorre dentro de nós (...) ao longo de toda nossa evolução humana, primeiramente nos identificamos com nossos corpos físicos. Leva algum tempo antes que compreendamos que esses corpos são formas que irão passar. Depois, quando vemos o corpo como uma forma passageira, são os nossos sentimentos que parecem ser duradouros. Quando adolescentes, juramos amizade eterna ou amor eterno. Posteriormente compreendemos que nossos sentimentos estão também sujeitos à transformação constante, e são nossas ideias que agora consideramos como duráveis. A essa altura somos muito dogmáticos. Isso também passa e podemos adquirir certa flexibilidade de pensamento até que compreendamos que até mesmo o pensamento é apenas uma vestimenta e que algo mais profundo interiormente representa para nós a vida eterna.
O processo pode continuar - o que sentíamos ser um alma imortal, compreendemos ser, por sua vez, um simples veículo temporário ou uma forma, como os outros, sujeito à transformação. Até mesmo Buddhi é um veículo de Atma, não no sentido de um corpo ou de uma forma como os vemos, mas talvez como um tipo de véu tênue - mais sutil do que o mais sutil que conseguimos imaginar. À medida que o homem evolui, a personalidade torna-se cada vez mais a expressão direto do Ego, que é uma forma que reflete verdadeiramente a vida interior. O homem está agora cônscio como um Ego imortal sensibilizando a personalidade como sua forma. Dizem que, com o tempo, até mesmo o Ego deixa de existir como tal, pois, afinal de contas, ele é simplesmente o veículo ou a forma externa da Mônada. Assim, no final das contas, também ele está sujeito à transformação e parece desaparecer. Podemos começar a nos perguntar se, de certo ponto de vista, a distinção entre a vida e forma não é uma ilusão - se vida e forma são, depois de tudo, não duas coisas distintas, mas realmente duas funções da mesma coisa divina.
Voltemos ao nosso estado atual - a nossa condição presente - em relação ao mundo objetivo, onde estamos apegados a formas materiais e sofremos quando elas são transformadas. Como vimos, até certo ponto com relação à nossa própria constituição, logo que deixamos de nos identificar com certas formas, toda nossa atitude com relação a elas muda. Ao mesmo tempo nossa atitude com relação à transformação dessa formas muda. Essa mudança é em si mesma uma transformação em nós, uma transformação na consciência até onde a consciência seja forma, até onde esteja cercada, modelada pela forma. Talvez, realmente, seja mais uma questão de ir além das formas do que atravessá-las. Em outras palavras, quando vemos as formas aprisionando nossas consciências, nossos lamentos e preconceitos com relação a elas desaparecem e nossa consciência torna-se correspondentemente livre. Uma expansão de consciência ocorre quando não mais estamos pessoalmente, e, portanto, dolorosamente, apegados a elas. (...)"
(Mary Anderson - Revista TheoSophia Jul/Ago/Set 2012 - Ed. Teosófica, Brasília - p. 39/40)
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