" (...) É a fixação do olhar na luz - na vida una que tudo permeia - que purifica nossas percepções, ampliando assim nossa visão. A disciplina requerida é bem conhecida: autopurificação, estudo e reflexão profundos, e o serviço altruísta que se segue naturalmente. Cada um desses passos é importante, mas são apenas passos e não fins em si mesmos, como às vezes se pensa. Por exemplo, o aprendizado e o desenvolvimento dos poderes de compreensão são necessários e úteis, mas não devemos permitir que se tornem desproporcionalmente importantes.
Com relação a isso, lembro-me de uma história sobre Shankaracharya. Numa manhã bem cedo, quando seguia para o Ganges para o banho diário e as orações, ele ouviu um estudante repetindo em voz alta as regras da gramática sânscrita. Shankaracharya sentiu que aquela decoreba naquela hora gloriosa era perda de tempo que poderia ser mais bem utilizado para a contemplação das verdades da vida ou da natureza. E assim ele compôs o chamado Hino da Renúncia, que diz que sem jnana, ou sabedoria, nem o estudo nem o aprendizado assegurará a liberdade de alguém, mesmo em cem vidas. As regras de gramática não trazem proveito algum - contempla Govinda, o eu supremo que reside em tudo.
Quando a sabedoria começa a raiar, chega a luz - a luz da compreensão e da compaixão, da unidade, da síntese e do amor que vê não as peças individuais, mas o quadro total no qual as peças se encontram.
A realização de nossa divindade, mesmo que seja parcial, pode não ocorrer durante muito tempo, mas na medida em que tentamos viver uma vida mais pura, e portanto menos egoísta, podemos pelo menos começar a entender que a felicidade duradoura está na consciência, não na satisfação dos nossos desejos. (...)"
(Surendra Narayan - Revista Sophia nº 43 - Ed. Teosófica, Brasília - p. 34)
Nenhum comentário:
Postar um comentário