"É compreensível que, após conhecer embora superficial e resumidamente a proposta do Yoga, o leitor inteligente sinta o forte apelo do "essencial da vida". A partir daí será natural que indague: em qual das modalidades devo me engajar? A situação é a de quem, já sabendo onde deve chegar, precisa optar pelo melhor caminho. Pode ser também que, mesmo sem pretender engajar-se na prática, alguém, até por mera curiosidade intelectual, deseje saber qual é o melhor sistema de Yoga. O caminho (marga) da sabedoria? O da ação? Da devoção? O caminho do controle mental? Para você se unir com Deus, o método mais eficiente, direto, fácil, livre de riscos, menos oneroso e no qual a presença objetiva de um Mestre não seja indispensável é seguramente aquele que mais atende à sua natureza, isto é, a você como um sistema holístico, consideradas as características físicas, energéticas, psíquicas e espirituais.
As escrituras hindus dizem que o jivatman (a alma individual) é uma trindade formada por: (1) iccha (capacidade de querer); (2) jnana (capacidade de saber); e (3) kriya (capacidade de agir). Por conta de normais limitações impostas pela matéria, elas se traduzem respectivamente em: (1) inquietantes desejos; (2) parcos conhecimentos medíocres; (3) e egocentrados afazeres. A personalidade de cada ser humano é mercada pela predominância de uma dessas dimensões sobre as outras duas. Uns são (1) mais ambiciosos e apegados; outros, (2) mais estudiosos e perquiridores; e outros, finalmente, (3) mais ativos. Onde você se enquadra?
Se você é do tipo (1), o caminho mais adequado, obviamente, seria dirigir seus diferentes desejos e apegos para Deus, cultivar a mais profunda devoção. Bhakti Yoga seria seu melhor caminho de realização. Se você é do tipo (2), acima de tudo aspira à sabedoria, mais apropriada lhe será a Jnana Yoga, que transformará conhecimento medíocre e limitado em vivência intuitiva. Se seu tipo é (3), de vida dinâmica, sempre empreendendo algo, a Karma Yoga, que direciona para o bem comum as ações normalmente egocentradas, transformando-as em oferendas a Deus, ser-lhe-ia o sistema acertado.
Você deve ter notado que usei o verbo condicional (seria). Por quê?
A escolha do caminho depende ainda de considerações sobre outros fatores, tais como os gunas. As mesmas escrituras hindus dizem que o mundo material inteiro com toda variedade de seres é constituído de três gunas, vale dizer, qualidades, propriedades, atributos: (1) sattva, o atributo de iluminar; (2) rajas, de ativar;e (3) tamas, de persistir, restringir e obscurecer. Igual ao universo, os seres humanos também são triguna, isto é, uma constelação dos três atributos ou gunas. (...)"
(José Hermógenes - Iniciação ao Yoga - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 135/136)
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