" (...) Nesse roteiro de libertação pelo conhecimento da Verdade, certos místicos do Oriente enveredaram por um caminho que talvez possa ser considerado como um ato de boa vontade, mas não como uma compreensão integral: resolveram abandonar o mundo objetivo do ego, que os escravizava, em vez de o superar pela libertação. Simples abandono não é libertação. Escapismo não é redenção. Quem apenas abandona o mundo do ego, para se refugiar no Eu, não se redime desse mundo - não é um liberto, mas apenas um desertor. Pode essa deserção representar um ato de boa vontade, mas não deixa de ser medo e fraqueza. O homem disposto a libertar-se deve encarar o mundo da escravidão, lutar com ele até superá-lo por uma força inerente ao próprio lutador. Pela luta, essa força latente no lutador desperta, adquire vigor e crescente poder, até derrotar o adversário A luta com mundo do ego exige uma força incomparavelmente maior do que o simples abandono desse mundo adverso. E ainda que o lutar perca muitas batalhas nessa guerra existencial, se ele persistir na luta, revela-se mais heroico e admirável do que o desertor do campo de batalha.
O Bhagavad Gita do Oriente e o Evangelho do Cristo não recomendam fuga, mas luta, até a vitória final.
O homem realmente liberto superou tanto a derrota como a deserção.
Mas essa vitória só pode ser conquistada pelo Eu divino do homem, porque esse elemento divino do homem é onipotente, quando devidamente desenvolvido e acordado. "Tudo é possível, e nada é impossível, àquele que tem fé", isto é, fides, fidelidade ao seu centro onipotente, seu Eu divino."
(Huberto Rohden - Setas para o Infinito - Ed. Martin Claret, São Paulo -p. 32/33)
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