"E quanto à ação? Como agir num mundo que está constantemente mudando, constantemente revigorado e novo? Será possível agir antes de avaliar, decidir, conceber, escolher?
Antes de mais nada, é impossível não agir. Tudo que se faz, diz, pensa ou decide é ação. Escolher não agir também é uma ação. O mundo está mudando o tempo todo. Mesmo que você fique parado na corrente, está interagindo com as coisas que fluem em volta. Cada um de nós tem uma escolha. Podemos agir a partir da confusão, dos desejos, das respostas automáticas às circunstâncias, da ganância, da ira, da ilusão - ou podemos apenas agir. Podemos apenas agir ao simplesmente ver o mundo como ele é na realidade, e não como gostaríamos, imaginaríamos, ou conceberíamos que fosse.
Gandhi, ao pegar um trem, viu uma de suas sandálias escapulir do pé e cair próxima aos trilhos. O trem começou a se mover e não lhe deu tempo de a recuperar. Ele imediatamente tirou a outra sandália e a jogou junto da primeira. Quando um passageiro perguntou por que, Gandhi respondeu: "Agora, quem as encontrar terá um par."
Essa história ilustra o que é a ação antes da decisão e da escolha. É a ação que nasce da liberação, da total liberdade da mente. É a ação em conformidade com o mundo, à medida em que as coisas acontecem. Devemos viver com a visão, não com o pensamento. Devemos viver e agir a partir do todo, não da parte. Devemos deixar o mundo vir a nós, não nos lançarmos sobre ele. A questão é simplesmente estar desperto. É aí que o foco deve estar. Com isso você pratica a "reta ação". Qualquer coisa menos que isso e você está agindo a partir de uma ideia - um conceito. Você está desafiando a realidade, como se o mundo estivesse morto. Uma vida assim é dolorosa.
Basta agir baseado simplesmente no que vemos. Quando prestarmos atenção às reais percepções, em vez de aos conceitos - esperanças, temores, metas, desejos e histórias individuais e culturais - não é preciso de nenhuma receita, nenhum conjunto de mandamentos. A ação que cresce a partir do ver é naturalmente apropriada à situação, qualquer que ela seja. Isto quer dizer que você não está se aferrando mais às suas crenças e opiniões preferidas. Você está pronto para se livrar delas quando notar que não funcionam e que são fonte de dor e ansiedade. O foco sempre retorna a simplesmente estar desperto. É desse modo que vamos nos salvar e salvar o mundo.
Quando agimos baseados no que é, não no que esperamos, ou pretendemos, não mais precisamos seguir um conjunto de diretrizes, porque temos uma visão clara da realidade e do universo. Temos a evidência verdadeira de nossos próprios olhos e de nossa própria experiência para nos guiar. Uma vez que reconheçamos a verdade que está (e que sempre esteve) perante nós, podemos agir num relacionamento direto com tudo o que é, a partir de tudo que é. Logo que você olhar para a situação, agirá da maneira apropriada. A ação cuidará de si própria."
(Steven Hagen - Revista Sophia nº 30 - Ed. Teosófica, Brasília - p. 31)
Nenhum comentário:
Postar um comentário