"Que vem a ser Laya? Pelo que tenho aprendido de vários textos autorizados, entendo ser um mergulho de algo existente em sua causa primeira, nela se fundindo. É o caso de uma onda sumindo no mar. É um regresso à origem. Um pleno deixar de existir para retornar gloriosamente a Ser. O que antes era limitado como existência ganha a infinitude da essência quando nEla se dissolve. O que, como simples existência, era efêmero, ao extinguir-se na essência alcança perenidade; o que era apenas aparência recobra realidade; o que era cambiável torna-se imutável; o que era limitado se infinitiza... Ramakrishna lembra uma boneca feita de sal que é atirada ao mar. Some. Oceanifica-se. O método que se propõe a efetivar esta fusão redentora chama-se Laya Yoga. Laya significa extinção, fusão.
O clássico Yoga Taravali diz que: Shiva, o Eterno (Sada Shiva) mencionou cento e cinquenta mil formas de Laya Yoga existentes no mundo.
Conforme Shiva declarou, são incontáveis as forma de atingir laya, a dissolução do individual no oceano do Universal, da alma em Deus, do relativo no Absoluto, do existir no Ser. Pelo visto, todos os processos ou métodos de ascese ensinados nas diferentes religiões que visam à união mística são formas de Laya Yoga. A meta suprema de todas as formas de Yoga (Karma, Jnana, Kriya, Hatha...) é a fusão em Deus. A única exceção é a Bhakti Yoga, que acha tão divinamente jubiloso e feliz amar Deus, que renuncia à possibilidade de fundir-se nEle. O bhakta acha Deus tão doce, que se contenta em apenas O saborear, por isto renuncia à possibilidade de vir a transformar-se no próprio açúcar Mas, fora a Bhakti, conforme estamos sabendo, Yoga é união da qual resulta a extinção do jiva no seio de Paramatman.
É fácil concluir que Laya Yoga, ou a autoextinção individual libertadora, só pode ocorrer quando o ser humano, ao longo de um árduo e prolongado esforço através de muitas existências, conquistou excepcionais condições de santidade e sanidade, condições estas que os diversos caminhos (margas) ou as diversas disciplinas (sadhanas) ajudam a construir.
Um bhogi é um indivíduo que nada, pouco ou equivocadamente conhecendo das leis e verdades espirituais, ainda egocêntrico, vulnerável às seduções mundanas, dominado por apegos, ódios e fobias, agarra-se à vida com ostra ao casco do navio. Naturalmente um bhogi repele qualquer ideia de renúncia, humildação e muito mais de autoextinção. Luta, ao contrário, pela autoafirmação, aquela que terapeutas e pedagogos contemporâneos tanto valorizam. Tomando em conta que a grande maioria dos seres humanos é formada de bhogis, não se pode esperar muitas adesões à tão estranha proposta filosófica de laya. No entanto, suponho que possa ser feito um convite a uma análise sobre o porquê e como nos autoalienamos da Suprema Bem-Aventurança que é nosso verdadeiro Ser, autocondenando-nos assim a múltiplas limitações e misérias existenciais. Esta inteligente pesquisa é o alvorecer de uma abençoada libertação que todos, conscientemente ou não, desejamos. (...)"
(José Hermógenes - Iniciação ao Yoga - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 113/115)
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