"JIVA (A ALMA INDIVIDUAL) usa um corpo. Este, feito de pó, ao pó voltará. Sem dúvida. Mas não é por isso que deva ser negligenciado, antecipando assim seu retorno ao pó. Ao contrário. Se pretendermos realizar alguma obra de certo valor e vulto, especialmente algum considerável avanço em Yoga, seja Bhakti, Karma, Jnana, Raja ou qualquer outra modalidade; se desejarmos seguir o caminho (marga), seja o de Cristo, Bucha, Mahoma, Sankaracharya... nós, jivas, precisamos de um corpo sadio, purificado, eficiente e durável. Um corpo são - já o sabemos - é instrumento necessário a qualquer empreendimento físico, profissional e social, mas muito mais ainda ao espiritual.
Não podemos esquecer porém que, não obstante ser tão importante a higidez física, notáveis místicos da humanidade alcançaram a Meta Suprema, embora revestidos de corpos frágeis e mesmo enfermos. Como explicar? Tudo conduz a pensar que tais criaturas, em vidas anteriores, já haviam realizado árduas asceses, e cumprido austeras disciplinas (sadhanas), que lhes possibilitaram, vencendo grandes distâncias no "caminho estreito", alcançar a santidade. Se você e eu ainda não conseguimos nos agigantar bastante na santidade, convém-nos conquistar sanidade para o corpo, a mente e o intelecto, que nos servem de instrumentos, veículos, vestes, equipamentos. Eles serão para nós ou contra nós. Depende do tratamento que lhe dermos. Convém treiná-los para que conquistem condições ideais de desempenho e durabilidade, para que vivam bem e vivam muito. Jesus diria: para que tenham vida e a tenham em abundância. Como superar obstáculos, crises, fadigas, carências, barreiras e desafios ao longo do "caminho estreito", se o corpo for tamásico (enfermo, frágil, entorpecido); se a mente for tamásica (lerda, obtusa, obscura) ou rajásica (inquieta, conflitada); se o intelecto for rude e preconceituoso, vacilante e pobre de discernimento? Se, pelo contrário, o corpo, digamos, for limpo, ágil, resistente à fadiga e às doenças, flexível, harmonioso, forte, elástico, jovem, sem reclamar conforto, bem nutrido, sóbrio, mas principalmente todo tempo obediente a nosso comando; se a mente for sã e santa, pura e submissa, concentrada e lúcida; se o intelecto for ágil, agudo, alerta, discriminante, naturalmente maiores serão nossas possibilidades de chegar aonde queremos.
Equipamento é para viabilizar; veículo, para transportar; veste, para proteger... No entanto, corpo, mente e intelecto, sem cultivo e disciplina estorvam, limitam e condicionam. Por isto, em sânscrito, são chamados upadhis, palavra que lembra limitação, cerceamento, entrave. É prioridade nossa treiná-los tanto que não embarguem nossos passos nem nos tolham os movimentos. Os upadhis são para o jiva o que o escafandro é para o escafandrista. Quando o escafandro se torna pesado e roto, pobre do escafandrista! (...)"
(José Hermógenes - Iniciação ao Yoga - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 56/57)
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