" (...) Como um cavalo faminto que se recusa a comer o pasto verdejante à sua volta, pois está muito ocupado perseguindo a cenoura dos seus sonhos, assim o escravo dos desejos se recusa a conhecer e a fruir da vida, pois está envolvido demais na busca de suas ilusões sempre cambiantes. Muitos se tornam vítimas fatais de suas miragens, como o caso de certas "celebridades" que, voluntária ou involuntariamente, acabaram se suicidando depois de já terem supostamente conseguido "tudo", e de tão insatisfeitas, buscaram a morte. O fato é que a ilusão não satisfaz, assim como a cenoura de sonhos não é capaz de saciar a fome do cavalo.
O que faz alguém começar a escapar da armadilha das ilusões é o processo de aprendizado e amadurecimento espiritual. Isso implica deixar de ser uma ovelha que cegamente acompanha o rebanho e passar a questionar para onde está indo e qual é o motivo de cada passo. Assim como o filósofo Sócrates perguntava aos alunos o porquê de cada coisa, deveríamos perguntar a nós mesmos os porquês das crenças que estão na raiz de nossa ansiedade e frustração. Mas para isso é preciso querer aprender e ser perspicaz.
Lembro-me bem de certa vez, quando era garota, em que sutilmente demonstrei interesse por um certo rapaz que, claramente, demonstrou que não tinha nenhum interesse por mim. Ao contrário de outros momentos em que fiquei automaticamente triste, eu simplesmente observei os meus pensamento e as emoções que se seguiram àquele "fora". Algo em mim queria mascarar a situação, mas como eu estava observando, percebi bem o desgosto por não ter sido correspondida. Imediatamente, uma vez em mim perguntou: e daí? Então percebi que eu tinha a crença de que, para ser feliz, precisava ser sempre correspondida, apreciada etc. Nada mais falso. Imediatamente me libertei desse preconceito.
Um dos maiores sofrimentos da juventude vem da ilusão de que a pessoa X é o nosso parceiro ideal, e de que ela deveria achar o mesmo de nós. Os exemplos da juventude parecem engraçados, mas o fato é que o mecanismo é sempre o mesmo em todas as idades. O funcionário acha que o chefe deve promovê-lo. O chefe acha que o funcionário tem que fazer todas as suas vontades. A vovó acha que a netinha não deveria ter faltado ao almoço no domingo. A mulher acha que precisa de uma bolsa nova. A moça acha que precisa colocar silicone no busto. O rapaz acha que precisa de mais dois centímetros de bíceps.
O fato é que nós nos livraríamos de uma infinidade de aborrecimentos simplesmente perguntando por quê. Por que eu teria que ser promovido? Por que eu preciso de uma roupa nova? Por que alguém não pode faltar ao meu almoço? Por que eu preciso de um busto maior? Vai chamar mais atenção? Por que eu preciso de mais atenção? Está na moda? Por que eu precisa estar na moda? O que é a moda? Por que a moda existe? (...)"
(Cristiane Szynwelski - Revista Sophia nº 40 - Ed. Teosófica, Brasília - p. 14/15)
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