Sou um ego distinto e distante de Deus e de meus semelhantes (os demais egos). Vivendo entre pessoas, coisas, acontecimentos e ideias, umas me agradam e seduzem, outras afrontam, desagradam, ameaçam e amedrontam. O que me agrada e gratifica, eu desejo (raga) desfrutar e possuir. Por outro lado, sinto aversão (dvesha) a tudo que me contrarie. Conquistarei aquilo que desejo e rechaçarei tudo que me desconforta e aborrece. Ora, bem sei que não posso obter e guardar sempre o que quero; nem sempre conseguirei afastar ou destruir o que me desagrada e aborrece. Afinal de contas, estou irremediavelmente condenado à insatisfação e à morte, que não sei quando chegará. Minha vulnerabilidade e impotência me angustiam. O medo de morrer (abhinivesha) me oprime.
O homem ego, depois de escutar as advertências dos Mestres espirituais e já tendo estudado as escrituras, deveria começar especular mais ou menos assim:
Se eu vencer esta ilusão de ser tão somente um ego à parte, por isso mesmo apegado, rixento e medroso, dar-me-ei conta da Verdade do Ser que Eu Sou. Só assim definitivamente afastarei da minha vida o peso enorme da miséria; livrar-me-ei de todos os tormentos, limites, conflitos, doenças, carências... Extinta a ignorância (avidya), tomarei posse da consciência plena e definitiva do Ser, que Eu Sou. E assim, de uma só vez, extinguirei apegos (raga), aversões (dvesha) e o medo (abhinivesha). Esta será minha salvação, a terapia ideal.
Patanjali ensina como vencer a ignorância, causa raiz de todos os demais kleshas:
A ininterrupta percepção do Real é o meio de afastar e dispersar avidya. (Yoga Sutra, II:26).
Mas, como realizar proeza tão difícil? Como conseguirei administrar minha mente sempre rebelde e agitada mantendo-a parada na percepção incessante do Ser Real que nem alcanço supor como seja, tão fora de minha percepção ou concepção? Patanjali responde:
Pela prática dos exercícios componentes (angas) do Yoga, destrói-se a impureza, sobrevindo a iluminação espiritual que propicia a percepção da Realidade. (Yoga Sutra, II:28).
A incógnita, entretanto, continua: que são os tais angas de tanto poder, capazes de remover a impureza e deter a inquietude normais da mente, tanto que viabilize a iluminação? Sempre baseando-nos em Patanjali, vamos continuar refletindo juntos em busca da resposta. (...)"
(José Hermógenes - Iniciação ao Yoga - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 39/40)
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