"(§12) Procura verificar o que vale a pena ser feito; e
lembra-te que não deves julgar as coisas por sua grandeza aparente. Uma pequena
coisa, que seja diretamente útil à obra do Mestre, vale muito mais a pena ser
feita do que uma grande coisa que o mundo considere boa. Precisas distinguir
não somente o útil do inútil, mas ainda o mais útil do menos útil. Alimentar os
pobres é uma obra boa, nobre e útil; porém alimentar suas almas é ainda mais
nobre e mais útil do que alimentar seus corpos. Qualquer homem rico pode
alimentar o corpo, mas somente aqueles que sabem podem alimentar a alma. Se tu
sabes, é teu dever auxiliar outros a saber.
(§13) Por mais sábio que já sejas, nesta Senda ainda terás
muito que aprender; tanto que aqui também deve haver discernimento, e tu deves pensar
cuidadosamente o que vale a pena ser aprendido. Todo conhecimento é útil, e um
dia terás todo o conhecimento; enquanto, porém, tu tiveres somente parte dele,
toma cuidado para que essa seja a parte mais útil. Deus tanto é Sabedoria como
Amor; e quanto mais sabedoria tiveres mais Ele poderá se manifestar por teu
intermédio. Estuda, então, mas estuda em primeiro lugar aquilo que mais te
habilite a auxiliar os outros. Trabalha pacientemente em teus estudos, não para
que os homens te considerem sábio, nem mesmo para que possas ter a felicidade
de ser sábio, mas porque somente os homens sábios podem ser sabiamente úteis. Por
muito que desejes auxiliar, enquanto fores ignorante poderás fazer mais mal do
que bem.
(§14) Precisas distinguir entre a verdade e a falsidade;
tens de aprender a ser verdadeiro em tudo, em pensamento, palavra e ação.
(§15) Primeiro em pensamento; e isto não é fácil, pois há no
mundo muitos pensamentos falsos, muitas superstições insensatas, e ninguém que
estiver escravizado por eles poderá fazer progresso. Portanto, não deves
acolher um pensamento simplesmente porque muitas outras pessoas o acolhem, nem
porque se tenha acreditado nele por séculos, nem porque esteja escrito em algum
livro que os homens julguem ser sagrado; tu tens de pensar sobre a questão por
ti mesmo, e julgar por ti mesmo se ela é razoável. Lembra-te que, embora um
milhar de homens concorde sobre um assunto, se eles não souberem nada sobre
aquele assunto a sua opinião não tem valor. Aquele que quiser trilhar a Senda
tem de aprender a pensar por si mesmo, porque a superstição é um dos maiores
males do mundo, um dos grilhões dos quais, por ti próprio, deves te libertar
completamente.
(§16) O teu pensamento a respeito dos outros deve ser
verdadeiro: não penses a respeito deles aquilo que não saibas. Não suponhas que
os outros estejam sempre pensando em ti. Se um homem fizer alguma coisa que imaginas
poder prejudicar-te, ou disser alguma coisa que imaginas aplicar-se a ti, não
penses imediatamente: "Ele deseja ofender-me." É mais provável que
nunca tenha pensado em ti, pois cada alma tem as suas próprias preocupações e
seus pensamentos giram principalmente em torno de si mesma. Se um homem te
falar iradamente, não penses: "Ele me odeia, ele quer ferir-me."
Provavelmente alguém ou alguma outra coisa o deixou irado, e acontecendo
encontrar-te, voltou sua ira sobre ti. Ele está agindo insensatamente, pois
toda a ira é insensata, mas nem por isso deves pensar sobre ele de modo não
verdadeiro. (...)"
(Krishnamurt – Aos Pés
do Mestre – Ed. Teosófica, Brasília)
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