"(§57) Não contente por ter feito todo este dano a si mesmo e
à sua vítima, o maledicente tenta, com todas as suas forças, tornar outros
homens cúmplices de seu crime. Ansiosamente lhes conta sua perversa história, com
a esperança de que nela acreditem; e eles, então, unem-se a ele a enviar maus
pensamentos ao pobre sofredor. E isso se repete dia após dia, e é feito não por
um homem, mas por milhares. Começas a ver quão vil, quão terrível é este
pecado? Tens de evitá-lo por completo. Nunca fales mal de ninguém; recusa ouvir
quando alguém falar mal de outrem, porém dize gentilmente: "Talvez isto
não seja verdade, e mesmo que seja, é mais amável não falarmos nisso."
(§58) Quanto à crueldade, pode ser de dois tipos:
intencional e não intencional. A crueldade intencional consiste em causar dor
propositalmente a outro ser vivo; e este é o maior de todos os pecados - obra
mais própria de um demônio do que de um homem. Dirias que nenhum homem poderia fazer
tal coisa; mas os homens a têm feito frequentemente, e ainda hoje a estão
fazendo diariamente. Os inquisidores a fizeram; muitas pessoas religiosas
fizeram-na em nome de sua religião. Os vivisseccionistas a fazem; muitos professores de escola a fazem habitualmente.
Todas estas pessoas tentam desculpar a sua brutalidade dizendo que é o costume;
mas um crime não deixa de ser crime porque muitos o cometem. O carma não leva
em conta o costume; e o carma da crueldade é, de todos, o mais terrível. Na
índia, pelo menos, não pode haver desculpa para tais costumes, pois o dever de
não causar dor é bem conhecido de todos. O destino reservado aos cruéis terá de cair também sobre todos os que intencionalmente
matam criaturas de Deus, chamando a isso de "esporte".
(§59) Sei que tu não farias coisas tais como estas; e pelo
amor de Deus, quando a oportunidade se oferecer falarás claramente contra elas.
Existe, porém, a crueldade no falar tanto quanto no agir; e um homem que diz
uma palavra com a intenção de ferir a outrem é culpado deste crime. Isto tu também
não farias; mas, às vezes, uma palavra descuidada causa tanta dor quanto uma
maliciosa. Deves, pois, estar alerta contra a crueldade não intencional.
(§60) Ela procede, usualmente, da irreflexão. Um certo homem
é tão cheio de cobiça e avareza que nunca pensa sequer quanto sofrimento causa
a outros pagando-lhes muito pouco, ou por deixar meio famintos sua mulher e filhos.
Outro pensa apenas em sua própria luxúria, pouco lhe importando quantas almas e
corpos ele arruína para satisfazê-la. Um outro, ainda, somente para poupar-se
uns poucos minutos de incômodo, não paga os seus empregados no dia apropriado,
sem pensar nas dificuldades que lhes causa. Tanto sofrimento é causado meramente pela irreflexão -
por esquecer-se de pensar como uma ação afetará os outros. Porém, o carma nunca
esquece, e não leva em conta o fato de que os homens esquecem. Se desejas
entrar na Senda, tens de pensar nas consequências do que fizeres, para que não
sejas culpado de crueldade irrefletida. (...)"
(Krishnamurt – Aos Pés
do Mestre – Ed. Teosófica, Brasília)
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