sábado, 1 de dezembro de 2012

A PROCISSÃO DOS HOMENS IGUAIS


“Eu vi passar a procissão dos homens iguais, tristemente iguais, mesquinhamente, miseravelmente, acomodadamente, doentiamente iguais.

Cada um, em si mesmo, convencido de ser autêntico, ia a cantar desentoado a canção de sua própria autenticidade inexistente.

Todas, arrastando medroso e maquinal mesmismo, iam inventando um poema de suposta liberdade.

Iam tangidos pela espora da cobiça, perdidos no erótico, fugindo do tédio, caçando novas sensações, buscando acumular, tentando preencher o grande vazio.

Todos massificados no mesmo caminho, defendendo desgastadas crenças ou gritando pseudo-rebeliões extremistas, repetindo ideologias ocas mais aliciantes, mantendo as mesmas aspirações, lutando pelas mesmas confortadoras ilusões.

Iam vestindo as mesmas vestes; falando de forma igual; preferindo as mesmas coisas, detestando as mesmas coisas; alienando-se da mesma forma.

Ainda estou vendo passar agitada a patética procissão dos homens-máquinas iguais, com seu tropel de normais pés acorrentados, tentando esmagar os raros rebeldes divinos que falaram da verdadeira liberdade e da autenticidade que liberta.”

(Hermógenes – Mergulho na paz – p. 25/26)


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